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A Maçonaria e a Independência do Brasil


Conheça um dos fatos menos divulgados da nossa história: o envolvimento da Ordem Maçônica no processo que, a partir da Inconfidência Mineira, veio a culminar na libertação do Brasil de Portugal

As primeiras sociedades maçônicas brasileiras apareceram no século XVIII, com objetivos políticos e sociais. A primeira loja, o Areópago de Itambé, surgiu em Pernambuco, em 1796, fundada pelo ex-frei carmelita, botânico e médico formado pela faculdade de Montpellier, Manuel de Arruda Câmara. No entanto, os movimentos maçônicos já atuavam por aqui antes da fundação dessa primeira loja. De fato, havia muitos clubes e academias literárias, cujos ideais eram, na verdade, maçônicos. Baseando-se nas ideias libertarias da maçonaria, essas agremiações buscavam a independência do país.

A Inconfidência Mineira foi resultado desse esforço. Vários inconfidentes eram maçons. Há indícios de que o próprio Tiradentes era membro da ordem. O historiador Joaquim Felício dos Santos, que viveu e escreveu no século XIX, afirmou que “a Inconfidência de Minas foi dirigida pela maçonaria. Tiradentes e quase todos os conjurados eram pedreiros-livres”. Sabe-se que, além de Tiradentes, Alvarenga Peixoto e Francisco de Paula (comandante do alferes Tiradentes) eram tidos como “mazombos”, nome dado na época aos maçons. Eles se reuniam em uma chácara de propriedade de Francisco de Paula, onde foram traçados os planos de independência.

Acredita-se que Tiradentes fundou uma Loja Maçônica em Diamantina, então chamada de Tijuco, buscando congregar elementos interessados no movimento revolucionário. Tiradentes era alferes (um posto militar do exército colonial entre primeiro-sargento e tenente) e por causa das suas muitas relações entre os militares acabou conseguindo apoio de vários deles. Desse modo, logo se formou um triangulo de informações entre Tijuco, Vila Rica e Rio de Janeiro. Através dos contrabandistas de diamantes ingleses, notícias sigilosas eram enviadas dos maçons europeus ao grupo de conspiradores.

Com base na Constituição norte-americana, os inconfidentes elaboraram um conjunto de normas de governo para o Brasil. Decidiram, também, que com o sucesso da revolta fariam a capital do novo país em São João d’El-Rei, aboliriam a escravidão e fundariam uma universidade em Vila Rica. A bandeira da nação seria branca com um triangulo azul, branco e vermelho ao centro, com um índio quebrando grilhões, com os dizeres Libertas quae sera tamem (Liberdade ainda que tardia) sobre o triângulo.

No entanto, como todos sabem através dos livros de História, os conspiradores foram traídos. Ironicamente, quem revelou toda trama ao visconde de Barbacena foi o também maçom Joaquim Silvério dos Reis.

Tiradentes, o maior herói da Inconfidência Mineira, foi maçom (Tiradentes esquartejado, de Pedro Américo, 1893)

Contudo, a repressão por parte da metrópole não conseguiu sufocar o anseio por liberdade. Apesar de as autoridades coloniais, sempre vigilantes, infiltrarem espiões nas organizações maçônicas, o surgimento de novas lojas foi inevitável. Alimentadas pelo ideal de independência, elas brotavam em todo o país.

O desejo de independência que fermentava nessas lojas secretas levou à Revolução Pernambucana de 1817. Embora num primeiro momento a revolução tenha triunfado, o conde dos Arcos, governador da Bahia, reuniu suas tropas e atacou Pernambuco por terra e por mar. Frente às forças do conde dos Arcos, a revolução resistiu por pouco tempo.

Com o fracasso da insurreição, a maçonaria sofreu um sério revés, passando a ser duramente perseguida. Em março de 1818, a coroa expediu um alvará proibindo o funcionamento das sociedades secretas. A medida, porém, não abalou os ânimos dos revolucionários. Pouco depois da expedição do alvará, o maçom José Joaquim da Rocha fundou em sua casa, em Praia Grande, hoje Niterói, o Clube da Resistência, que viria a ter uma importante participação nos eventos que levaram à independência do Brasil.

Em 1821, as Cortes de Portugal determinaram o retorno do príncipe herdeiro, dom Pedro, à Europa. O resultado desse arranjo seria ruim para o país, pois sem o príncipe regente, o Brasil voltava à condição de colônia. Em resposta, o Clube da Resistência agiu para reverter esse cenário, traçando um plano para evitar que dom Pedro deixasse o Brasil. O maçom Francisco Maria Gordilho de Barbuda, um coronel do exército colonial que mais tarde se tornou o marquês de Paranaguá, sondou o príncipe e obteve sua imediata adesão ao plano. José Clemente Ferreira, um dos líderes do Senado, aderiu ao movimento. Maçons de São Paulo e Minas Gerais apoiaram a ação.

Assim, na sessão de 9 de janeiro de 1822 do Senado, José Clemente Pereira discursou a Dom Pedro. O príncipe respondeu dizendo que prolongaria sua volta até que as Cortes e o rei dom João VI deliberem a esse respeito, considerando a vontade dos brasileiros. Das janelas do Senado, a resposta de Dom Pedro foi transmitida ao povo. Foi uma decepção. Notando o desapontamento que causara, Dom Pedro resolveu mudar a resposta. Determinou, então, que José Clemente Pereira dissesse à multidão a frase que ficou célebre na nossa história: “se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico”.

O gesto fez com que a Divisão Auxiliadora Portuguesa julgasse a posição do príncipe como um ato de rebeldia contra as Cortes. Dom Pedro deveria ser preso e enviado a Lisboa. Mas os maçons do Clube da Resistência saíram às ruas e levantaram o povo a favor do príncipe. Conseguiram reunir cerca de dez mil pessoas. A multidão se dirigiu ao Campo de Santana, onde o general Jorge Avilez, do exército português, reunia seus homens. Com um número muito menor de soldados, Avilez abandonou a luta e se retirou para Niterói, onde pretendia se fortificar e esperar por reforços. No entanto, a polícia cortou todas as ligações com Niterói, isolando assim a tropa portuguesa.

O maçom dom Pedro I, do Brasil, e dom Pedro IV, de Portugal (último retrato de dom Pedro como imperador do Brasil, por Simplício de Sá, 1830)

Com isso, o movimento nascido no seio da maçonaria brasileira venceu a batalha. Restava, porém, conseguir realizar uma Assembleia Geral Constituinte. Embora relutante, Dom Pedro convocou a assembleia, que teve lugar em junho de 1822. Agora, só faltava efetivar a independência do país.

A partir de então, sem recear as autoridades, as lojas maçônicas entraram em plena atividade. Na sessão de 13 de julho de 1822, na Loja Comércio e Artes, foi proposto e aceito o nome do candidato Príncipe Dom Pedro, recebendo o nome simbólico de Guatimozin – um dos nomes pelos quais os cronistas espanhóis se referem ao último imperador asteca Cuauhtémoc. Três dias depois da sua iniciação, ele foi elevado a mestre e, em 2 de agosto do mesmo ano, a grão-mestre.

O que aconteceu depois está em todos os livros de história do Brasil. Em 7 de setembro de 1822, em viagem a São Paulo, dom Pedro recebeu de emissário a resposta das Cortes sobre a Assembleia Constituinte. A metrópole não aceitava esse ato nacionalista e ameaçava enviar tropas para reconquistar seu domínio. Irado, Dom Pedro desembainhou a espada e proclamou: “Independência ou morte!”

Nascia, assim, a nação brasileira.

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