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Os Cavaleiros Templários


Poderosos monges guerreiros, envoltos em lenda e maldição, os templários acumularam riquezas e conhecimento, contribuindo para acelerar o fim da Idade Média e estabelecer inovações que mudaram a face do Ocidente

Poucas ordens religiosas foram tão envolvidas em mistério como a Ordem dos Cavaleiros do Templo de Salomão, mas conhecidos como templários. Em pouco tempo, seus membros acumularam riquezas e conhecimentos e tornaram-se mais poderosos que os monarcas europeus. Mas poucas instituições decaíram tanto como a dos templários. Traídos pelo papa, dispersados e expulsos dos seus territórios no século XIV, o tesouro de conhecimento dos Cavaleiros do Templo de Salomão se espalhou por toda a Europa, trazendo elementos que contribuiriam para o evento do Renascimento e impulsionando o grande ciclo de descobrimentos.

Quando os cristãos tomaram Jerusalém, durante a Primeira Cruzada (1095 – 1099), a Ordem dos Cavaleiros do Templo de Salomão foi fundada por Hugues de Payens (1070 – 1136), um fidalgo vassalo do conde de Champanhe, na França. No Domo da Pedra de Jerusalém, os nove fundadores originais dos Templários, guiados por Hugues de Payens, fizeram seu voto sagrado, jurando guardar os lugares santos e proteger os peregrinos cristãos. Além de defender a fé, propunham viver uma vida monástica de pobreza e obediência.

A ascensão e reconhecimento dos templários na Europa ocidental, garantida no Conselho de Troyes, em 1129, foi incrivelmente rápida. A vertiginosa expansão do poder da Ordem do Templo de Salomão se deveu em grande parte ao apoio do mais hábil sacerdote político da sua época, São Bernardo de Clairvaux. Com a campanha de São Bernardo, em pouco tempo a ordem se tornou extremamente rica e poderosa, recebendo doações e terras. Os cavaleiros se tornaram um Estado dentro do Estado, e o grão-mestre templário, um rei entre os reis.

Em sua permanência no Oriente Médio, os cavaleiros templários absorveram as filosofias e ciências árabes, bem como o conhecimento clássico grego preservado pelos muçulmanos. Outro papel assumido pelos templários foi o de mestres construtores. Há evidências que eles introduziram a geometria sagrada do Oriente Médio na construção de obras-primas na França, como a Catedral de Chartres. Também introduziram o sistema bancário, tornando-se os banqueiros da cristandade, financiando reis e nobres.

No entanto, os reinos cristãos na Terra Santa não perduraram. Jerusalém caiu nas mãos dos muçulmanos em 1187. Os templários se empenharam com afinco na reconquista, fazendo campanhas na Europa para lançar novas cruzadas e apoiando as quatro cruzadas sucessivas à Terra Santa que se seguiram. Mas não tiveram êxito. Em 1291, o último reino cruzado caiu, e os templários abandonaram seu baluarte remanescente na Terra Santa, o castelo de Acre, e retornaram à Europa, levando consigo os tesouros que haviam acumulado na Palestina.

Em Jerusalém, os cavaleiros do templo mantinham seu

quartel numa antiga caverna sob o Templo do Monte,

conhecida como Estábulos de Salomão. Logo, surgiu

a lenda de que os protetores dos peregrinos escavaram

relíquias santas das ruínas do templo - tesouros como

a arca da aliança, o santo graal e o sudário de Cristo

Com o fim das Cruzadas, os templários se estabeleceram nas suas muitas fortalezas situadas em diversos reinos europeus, fixando-se, especialmente, como banqueiros, sempre prontos a financiar as dispendiosas operações militares dos reis locais. Por volta do século XIII, os templários rivalizavam os genoveses, lombardos e judeus a posição de principais banqueiros da época. Possuíam cerca de nove mil solares por toda Europa, todos eles livres de impostos, e garantiam segurança para o estoque e transporte de lingotes de ouro e prata. O tesouro do rei da França era normalmente guardado nos cofres do Templo de Paris. As únicas ordens de pagamento em dinheiro prontamente honradas eram emitidas pelos templários. Até mesmo os muçulmanos realizaram transações bancárias com os templários, caso os rumos da guerra os forçasse a se aliarem aos cristãos.

Apesar de a usura ser proibida pela Igreja durante a Idade Média, os templários ganhavam sobre o dinheiro que guardavam ou transportavam devolvendo uma soma menor que o valor original depositado, enquanto, em caso de empréstimo, o devedor pagava mais do que o valor recebido. O templo de Paris se tornou o centro financeiro mundial.

Os reis europeus sempre tinham poucos fundos. Voltavam-se regularmente aos seus banqueiros italianos e judeus. Contudo, normalmente, os monarcas não pagavam suas dívidas e expulsavam seus credores de seus domínios. Os templários, porém, não admitiam esse tratamento. E, donos de poderoso exército, bem que podiam.

Desse modo, os templários vieram a concentrar tanto poder nas mãos que acabaram se tornando uma ameaça à ordem política. Assim, sua força e riqueza logo se voltaram contra eles mesmos. Seus inimigos acusavam-nos de terem perdido a Terra Santa e insistiam que a arrogância dos templários era intolerável.

Não tardou para que o alto clero e a nobreza tramassem o fim da ordem. Desse modo, um plano foi concebido e executado. Na sexta-feira 13 de outubro de 1307, o rei da França, Felipe IV, o Belo, contanto com o apoio do papa Clemente V, mandou prender os principais líderes cruzados. Em seguida, os monges guerreiros foram torturados, “confessando”, sob dor excruciante, “abominações” as quais “justificavam” sua condenação. Como resultado, os templários presos foram executados, e a ordem acabou dissolvida pelo papa. Os devedores dos cavaleiros da Ordem do Templo respiraram aliviados, enquanto o papa e o rei da França esfregavam as mãos, satisfeitos por confiscar os tesouros e propriedades da ordem.

Diáspora Templária

Apesar da dissolução da ordem, a imensa maioria dos cavaleiros templários não foi nem presa nem punida. Na França, que, junto com a Inglaterra, foi o país onde as perseguições foram mais implacáveis, apenas 630 dos cerca de três mil templários locais foram presos. O motivo para que tão poucos templários tenham sido perseguidos era, muitas vezes, a força. Tim Wallace-Murphi, autor de Custodians of Truth (Guardiões da Verdade), cita um julgamento de templários na Bavária onde os réus compareceram fortemente armados. No final do julgamento, foram absolvidos. Wallace-Murphi entende que, se os juízes tivessem ousado declarar o contrário, teriam sido mortos.

Esses templários – muitos dos quais haviam alcançado altos graus na hierarquia da organização –, embora já não possuíssem mais as propriedades ou a ordem que os mantinha unidos, continuavam a deter o conhecimento técnico absorvido no Oriente Médio. Esses homens se espalharam pela Europa. Alguns juntaram-se a outras ordens militares monásticas, como a dos Cavaleiros Hospitalários; outros se infiltraram nas guildas de ofício europeias – particularmente as de construção –, enquanto muitos simplesmente dispersaram. Muitos, porém, permaneceram unidos e levaram a cruz templária a outros países. Mudaram se para lugares então remotos, como a região da atual Suíça, Portugal e a Escócia, onde promoveram grandes desenvolvimentos tecnológicos e políticos.

Selo da Ordem dos Cavaleiros do Templo de Salomão

Ao cruzar os Alpes franceses em direção ao oeste da Europa, muitos templários se estabeleceram na região onde hoje é a Suíça. Naquela época, o lugar era isolado, de difícil acesso e habitado por pequenas comunidades de pastores. Os templários, que conheciam bem essa rota, teriam ido para a Suíça porque a região era quase intransitável, ideal para despistar possíveis perseguidores.

Essa hipótese não é, entretanto, comprovada. Mas, curiosamente, na mesma época da queda dos templários, os camponeses daquela área se rebelaram contra os senhores franceses, buscando controle das rotas comerciais. Os camponeses não tinham qualquer treinamento militar. Mesmo assim, venceram a disputa. Lendas da época falam de cavaleiros vestidos de branco apoiando os rebeldes. Teriam sido os templários?

Outro argumento que pesa em favor da presença templária na Suíça é o seu sistema bancário – que teria sido uma herança dos cavaleiros. Alguns estudiosos sustentam que o sigilo que caracterizava a ordem e que hoje é marca registrada dos bancos suíços pode ser uma evidência.

Autores como o historiador escocês Andrew Sinclair afirmam que os templários que conseguiram escapar da perseguição se refugiaram na Escócia e em Portugal. Neste último reino, foram bem recebidos por seu notável conhecimento de técnicas de navegação. “Seus navios a vela foram pioneiros no uso da bússola e da vela de armação latina (a vela triangular que permite navegar até 45º contra o vento), que adotaram dos dhows árabes”, escreve Sinclair. A própria palavra portuguesa “barca” teria sua origem no termo árabe baraka. Introduzidos pelos templários, os inovadores mapas da costa atlântica da Europa, do Mediterrâneo e do Norte da África, mais detalhados que os prosaicos mapas usados na Europa até então, derivavam dos desenvolvimentos da cartografia árabe.

Sinclair garante que os conhecimentos que os refugiados da Ordem do Templo levaram para Portugal foram incorporados com um novo nome: os Cavaleiros de Cristo. Os navios da ordem renomeada navegavam no Atlântico sob a cruz de oito pontas dos templários. De fato, o primeiro europeu a circunavegar a África, o explorador Vasco da Gama, era um Cavaleiro de Cristo, assim como o Infante Dom Henrique, que foi um dos seus grão-mestres. Foi ele quem fundou, com base na herança adquirida dos templários, a famosa escola naval de Sagres, o centro da navegação portuguesa, onde o almirante Pedro Álvares Cabral foi treinado.

Outros templários franceses fugiram com seu tesouro e frota para a Escócia. Lá, apoiaram o rei Robert Bruce na Batalha de Bannockburn, em 1314, contra os invasores ingleses. Bruce e toda a Escócia tinham sidos excomungados pelo papa. Como os templários, os escoceses eram, então, inimigos do clero romano. Os reforços da cavalaria templária foram vitais para Bruce vencer o exército inglês, três vezes maior do que o seu, em Bannockburn.

Com a vitória nessa batalha, Bruce se tornou rei incontestável da Escócia – e soube reconhecer o valor dos templários. Como prova de gratidão, Bruce criou duas ordens nas quais os monges guerreiros poderiam se fundir. A primeira foi a Hidden Royal Order of Scotland. Seu grão-mestre era o próprio rei. A segunda foi a Grã-Loja Real de Heredom – que na verdade já existia, mas foi rebatizada e reformulada para abrigar os templários. Bruce apontou a família Saint Clair – os condes de Rosslyn – para representá-lo como grão-mestres hereditários de todos os ofícios e guildas da Escócia.

Se, nessas ordens, desapareceria a condenada Ordem do Templo de Salomão, elas foram, porém, responsáveis por preservar suas doutrinas e conhecimentos secretos.

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