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Príncipe de Astúrias, o Titanic brasileiro

  • cblanc67
  • 25 de jul. de 2016
  • 4 min de leitura

O naufrágio do navio no costão da ilha de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, há 100 anos, foi o pior da América Latina, com cerca de 500 vítimas

Os muitos naufrágios que aconteceram na ilha de São Sebastião fazem parte da crônica local. Ladeada por lajes, com ventos fortes, densos nevoeiros e grandes ondas, as águas da ilha provocaram o naufrágio de muitos barcos que navegavam próximo à sua costa. Acredita-se que mais de cem navios, veleiros e pesqueiros tenham sucumbido nos costões sul e leste. As listas, porém, contabilizam os restos de quatorze navios naufragados ao redor da ilha, além de quatro encalhados. O mais antigo deles é o vapor inglês Crest, que afundou em Borrifos em 1882, e o mais recente, o tanque grego Alina P, foi a pique em 1991.

As histórias desses acidentes incluem a pior tragédia marítima registrada no Brasil, a qual culminou com a morte de mais de 500 pessoas. O naufrágio do navio espanhol assombra a ilha e não deixa esquecer os tantos outros navios que encontraram seu fim no mesmo lugar. Do fundo do seu túmulo líquido, a cerca de 40 metros de profundidade, o Príncipe de Astúrias continua a intrigar.

Embora o fato tenha sido bem documentado, há uma aura de mistério envolvendo o fim do paquete espanhol Príncipe das Astúrias. Hoje, cem anos depois do naufrágio, não se sabe ao certo porque o navio foi ao fundo.

O Príncipe das Astúrias, construído em 1914 no mesmo estaleiro escocês que fabricou o Titanic¸ era o orgulho da empresa de navegação espanhola Pinillos. O paquete tinha lugar para 1.800 passageiros e contava com a mais moderna tecnologia. Nos anos 1910, era um dos poucos equipados com telegrafo sem fio – um item que, embora imprescindível em caso de perigo, não foi capaz de minimizar os efeitos do acidente.

Os oficiais do navio: o segundo a partir da esquerda é o capitão José Lotina

Na madrugada de 5 de março de 1916, domingo de carnaval, o Príncipe de Astúrias passava pela costa entre o Rio de Janeiro e Santos em sua sexta viagem da rota Barcelona a Buenos Aires. Pouco depois das 3h00 horas, quando os passageiros voltavam do baile de carnaval, o tempo piorou. O vento soprou com mais força, deixando o mar revolto. Uma tempestade começou a se formar, e a forte neblina baixou ainda mais.

Na ponte de comando, o primeiro-oficial interino Antonio Salazar del Campo, se preocupava. A embarcação estava viajando a cerca de sete milhas da costa e naquele momento passava pela ilha de São Sebastião. A fraca luz do farol da Ponta do Boi, no extremo sudeste da ilha, não estava visível. Salazar resolveu chamar o capitão, José Lotina. Ao chegar à ponte de comando, Lotina ordenou que os maquinistas dessem meia-força no navio, reduzindo assim a velocidade. As descargas elétricas se tornavam mais intensas e frequentes. Às 4h02, como se previsse o que aconteceria em seguida, o capitão determinou que as sirenes de alerta fossem soadas.

De repente, por uma nesga de visibilidade através da cerração, um relâmpago iluminou a terra bem na frente do navio. Lotina ordenou que fosse dada ré a toda a força, mas não houve tempo para os maquinistas responderem. O Príncipe das Astúrias bateu com violência na laje submersa da Ponta da Pirabura. Eram 4h15. Cinco minutos depois, o navio ia a pique. Tudo aconteceu tão rapidamente que não houve tempo sequer para transmitir um pedido de socorro, apesar do moderno telégrafo sem fio.

Foi o maior desastre marítimo não só do Brasil, mas também do Atlântico Sul. Os números oficiais registram 445 mortos, a maioria emigrantes espanhóis que fugiam da miséria de uma Europa esfacelada pela Primeira Guerra Mundial. Sabe-se, porém, que o navio transportava pelo menos cem clandestinos italianos e outros tantos de diferentes nacionalidades, os quais nunca mais foram vistos. O número de vítimas deve, portanto, ter sido bem maior. Entre os que pereceram no desastre estavam o capitão Lotina e o primeiro-oficial Salazar. De todos os embarcados, sobreviveram 86 tripulantes e oficiais e apenas 57 passageiros.

Até hoje as causas do acidente são discutidas. Logo, surgiram boatos sobre o naufrágio. Rumores como o de que o paquete teria sido afundado por um cruzador britânico por estar supostamente transportando fugitivos alemães em plena 1ª Guerra Mundial, ou então que o Príncipe de Astúrias estava transportando uma carga de ouro destinada a apoiar os revolucionários mexicanos tem povoado o imaginário local. No entanto, o ouro nunca foi encontrado e tampouco foi provada a proximidade de qualquer cruzador britânico na data do naufrágio.

Na verdade, os culpados pelo naufrágio foram outros. De acordo com o segundo-oficial Rufino Onzain y Urtiaga, foram três os fatores que levaram o Príncipe de Astúrias ao fundo: o denso nevoeiro, as descargas elétricas, as quais teriam afetado a bússola da embarcação, e a fraca intensidade do farol da Ponta do Boi. Dias depois do naufrágio, ao ser perguntado por um jornalista sobre a causa do acidente, Rufino afirmou: “atribuo-o ao desvio da agulha magnética, provocado pela violência das descargas elétricas produzidas na atmosfera”.

Manchetes dos jornais da época sobre o naufrágio do príncipe das Astúrias

 
 
 

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