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Stonehenge, um templo-observatório pré-histórico


Erguido há mais de cinco mil anos para acompanhar o movimento dos astros e marcar a passagem do tempo, o monumento megalítico localizado na Inglaterra era palco de rituais pagãos que incluíam, entre outras práticas, sacrifícios humanos

Henges são templos pagãos, que, ao contrário de outros monumentos megalíticos, só existem nas ilhas britânicas. Cerca de cem deles ainda desafiam o tempo, erguendo-se espalhados desde o Arquipélago Orkney, na Escócia, à Cornualha, no sul da Inglaterra. São estruturas circulares ou ovais, definidas por um aterro e uma vala, para onde há uma ou duas entradas. O aterro é, geralmente, fora da vala, formando desse modo a fronteira para um espaço sagrado, separado física e espiritualmente do mundo cotidiano.

O mais famoso henge é, sem dúvida, Stonehenge, perto da cidade de Avenbury, Inglaterra. Sua construção começou há mais de cinco mil anos e continuou pelos 1700 anos seguintes, ficando mais complexa a medida que o conhecimento astronômico aumentava. São círculos de pedra, fossos e dolmens que serviam de marco para se observar o surgimento do Sol ou da Lua contra uma reta formada com algum ponto no horizonte. O que resta hoje desse espetacular templo-observatório astronômico são só ruínas, as quais, porém, revelam muito sobre ele. Há três círculos: o externo tem 56 posições marcadas e os dois internos, 30 e 29. Há também uma grande pedra, a nordeste, a Pedra Altar, onde, especula-se, executava-se sacrifícios de sangue. Os solstícios de inverno e verão e as posições norte e sul são particularmente marcadas e os dois círculos internos permitem contar os meses lunares com precisão.

A teoria do templo-observatório, desenvolvida pelo professor Alexander Thom, é a mais aceita. Pesquisas recentes demonstraram que Stonehenge começou como um santuário lunar, mas, com o tempo, foi modificado para o culto do Sol. A entrada original do templo se alinhava com o surgimento mais setentrional da Lua no século. Essa preocupação com a Lua tem, provavelmente, ligação com rituais de morte. No entanto, conforme as escavações indicam, os sacerdotes-astrólogos acabaram mudando a entrada do templo 9 graus ao sul, alinhando-a, assim, com o surgimento do Sol no solstício de verão. Enquanto executava os rituais, exatamente no centro do círculo de pedra, o sacerdote veria o Sol nascer exatamente na pedra-portal, chamada de Heel Stone, ou Pedra Calcanhar.

Os Rituais de Stonehenge

Stonehenge fornece provas de que o templo-observatório era palco de sacrifícios de sangue. De acordo com os arqueólogos, a área está cheia de evidências. A três quilômetros de Stonehenge, na direção nordeste, foi encontrado o túmulo raso de uma menina de três anos e meio, voltada para o nascente e para a entrada do templo. Seu crânio tinha sido partido em dois por um machado.

Esses sacrifícios feitos na fundação de uma construção eram comuns. Como medida de proteção, costumava-se enterrar cabeças junto à pedra fundamental de templos e fortalezas. Outros desses “sacrifícios de fundação” se encontra no santuário de Avenbury, próximo de Stonehenge. Um adolescente de 14 anos marcava um importante alinhamento das colinas artificiais, quando esse templo foi reconstruído pela última vez.

Aubrey Burl, no seu livro Rites of the Gods (Ritos dos Deuses), afirma que esses rituais “simbolizam alguma necessidade da sociedade, cuja urgência era afirmada com mais veemência se o símbolo escolhido fosse um ser humano”. Ou conforme o grande mitólogo Joseph Campbell colocaria, esses povos “viviam o mito”.

Outra famosa história desenterrada no local é o “assassinato de Stonehenge”. Em 1978, o corpo de um homem forte, de aproximadamente 27 anos, datando do início da Idade do Bronze, foi encontrado na vala do henge. Havia três pontas de flecha no cadáver, no peito e nas costelas. A vítima foi alvejada de uma distância curta e, então, tratada com desprezo, sendo jogada numa cova aberta às pressas, com as flechas ainda cravadas no seu corpo. Quando foi encontrado, ele ainda tinha seu protetor de punho feito de couro, o que indica que era, provavelmente, um arqueiro.

Há ainda outros símbolos intrigantes revelados pelos arqueólogos. Um chefe guerreiro, por exemplo, enterrado numa das colinas funerárias que cercam Stonehenge, levou com ele para o Além as insígnias do seu poder terreno: uma clava feita de um tipo raro de calcário, um machado de bronze e duas adagas de bronze e cobre, uma delas com o punho ornado com incrustações de ouro. Sua riqueza também estava expressa no cinturão ornado com ouro marchetado encontrado no túmulo.

As maças e machados cerimônias de pedras semipreciosas, como a jadeíta, tinham papel central nos ritos e emprestavam autoridade aos sacerdotes. Muitas delas foram encontradas no templo, bem como esferas de greda e bastões de sílex, os quais o pesquisador Burl acredita serem símbolos fálicos. Também foram encontradas taças no local, provavelmente, emblemas da sexualidade feminina.

Stonehenge é envolvido em mistério e lenda e o próprio lugar onde o monumento foi erguido, cercado de colinas funerárias que abrigam os restos de heróis neolíticos, exerce um entusiasmo indescritível. Esse feito da engenharia pré-histórica foi construído, provavelmente, pelos pictos, o primeiro povo a habitar as Ilhas Britânicas e que se retirou para a atual Escócia, conforme a Inglaterra era invadida por sucessivas levas de diferentes povos. Os mistérios de Stonehenge estão, também, associados aos druidas celtas, que certamente usaram o observatório nos seus estudos e práticas religiosas, embora não o tenham construído. Segundo uma lenda, Stonehenge foi trazida da Irlanda para a Inglaterra por Merlin, o mais famoso druida, num processo de magia.

Na verdade, foi preciso bem mais que mágica para construir esse monumento megalítico. Pedras de até 50 toneladas foram transportadas de distâncias por terra de até 50 km, superando obstáculos naturais que exigiam o esforço de até 600 homens. As pedreiras, acreditam os pesquisadores, ficavam a 290 km de Stonehenge, nas Montanhas Prescelly, mas o trajeto que os pré-históricos faziam era, provavelmente, de 360 km, a maior parte dos quais através de rios e canais navegáveis. As pedras do templo, chamadas “pedras azuis”, são, na verdade, doleritas, uma rocha preferida nas construções de santuários pré-históricos. Os ancestrais dos modernos ingleses acreditavam que esse mineral tinha poderes curativos.

De todas as estruturas semelhantes a Stonehenge, nenhuma é tão complexa.Com suas pedras monumentais, suas colinas funerárias e o impressionante horizonte que envolve o templo-observatório, Stonehenge continua a evocar a relação espantosa entre o humano e o universo que o envolve.

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