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Hieros Gamos, o casamento dos deuses


Conheça essa antiga celebração de sexo ritual para garantir fertilidade, abundância e prosperidade

Na Antiguidade, o sexo era entendido como um aspecto sagrado da humanidade, fonte de força, fertilidade e poder. Essas características eram invocadas num ritual encenado nas sociedades agrícolas, da Mesopotâmia à Irlanda, e que continuou a existir em muitos desses lugares até cerca de 500 d.C. Os gregos chamavam esse rito de Hieros Gamos, ou “casamento sagrado”, parte central do antigo paganismo.

Para garantir a fertilidade da terra, uma vez por ano era celebrado esse ritual, no qual os deuses e deusas da fertilidade – na verdade sacerdotes e sacerdotisas vestidos como divindades – mantinham relações sexuais. O festival começava com uma procissão em celebração ao casamento sagrado, seguida por uma troca de presentes. Então, havia um rito de purificação e a festa, propriamente dita. Depois, a câmara nupcial era preparada, onde, à noite, o sacro-casal se reunia para executar a união do deus e da deusa através do ato sexual. Às vezes o deus ou deusa se “casava” com um ou uma mortal; outras, era o rei que desposava uma mulher que simbolizava a Terra, a qual dependia da sua força masculina para frutificar.

Deus do Êxtase

Na Grécia, uma das variações do Hieros Gamos, era celebrada durante o festival Anthesteria, em honra a Dionísio, a versão grega do deus romano Baco – deus da vinha, do vinho e do êxtase místico. Como o primeiro homem a fazer vinho ofereceu sua esposa a Dionísio, durante o Anthesteria, que durava três dias, também a rainha era oferecida como esposa ao deus. Em Atenas, nos primeiros tempos, a união entre eles acontecia depois do pôr-do-sol do segundo dia, no Boukolion, ou “estábulo do touro” – uma pequena casa na Ágora, o mercado e centro nervoso da cidade.

Mas ninguém sabe ao certo o que acontecia durante o casamento sagrado ateniense. Alguns estudiosos teorizam que o rei aparecia para a rainha mascarado como o deus; outros imaginam a rainha mantendo relações com uma arcaica estátua cerimonial. Todos concordam, porém, que alguma forma de união física acontecia de fato. E enquanto a rainha empenhava-se nesse ato, as mulheres de Atenas se uniam a ela em espírito.

Aparentemente a rainha não estava só. Durante o ritual, antes da consumação, a soberana auxiliava as 14 veneráveis representantes das mulheres da cidade, as gerairai, a invocar os 14 altares – provavelmente, os santuários locais. Entrementes, os homens de Atenas também invocavam Dionísio, participando de concursos de bebedeira de vinho.

Sarcófago com cena de bacanal, a versão romana da Anthesteria (século II d.C.)

Quanto às mulheres comuns de Atenas, pinturas em vasos indicam que aquela devia ser a noite na qual praticavam sexo ritual – talvez com estranhos, talvez com seus próprios maridos. Mais uma vez os autores discordam sobre este ponto. Muitos pesquisadores acreditam que o sexo ritual era praticado com estranhos. Parece que era comum mulheres jovens se juntarem aos homens nos concursos de beber vinho, para, em seguida, se unirem carnalmente ao deus incorporado nos celebrantes. Os homens não voltavam para suas esposas e eram recebidos pelas basilinas – o equivalente grego às bacantes, as mulheres que participavam da bacanal, como o mesmo festival era conhecido em Roma – nas casas destas.

Alguns autores, porém, argumentam que o casamento sagrado de Dionísio, ao menos em Atenas, também servia para estimular a sexualidade conjugal doméstica. Essa ideia é sustentada por pinturas em vasos que representam uma basilina esperando a chegada do deus com a porta semiaberta, um símbolo recorrente do sexo conjugal. Outras imagens também justificam a tese, como a cena que retrata um homem e uma mulher abraçados, cercados por folhas de hera e de videiras, símbolos matrimoniais.

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